Rezar, Agradecer e Amar-se
Aprendi o “Pai Nosso”, a “Ave Maria” e algumas outras orações (as quais já nem lembro mais) que, mesmo sem entender o significado de suas palavras, eram proferidas por mim através de um piloto-automático acionado para que elas me conduzissem à salvação dos meus atos e até mesmo dos meus pensamentos. Por muito tempo e por várias vezes deixei de agradecer e passei a lamentar e fazer pedidos! Lamentava pelas coisas que não haviam dado certo, pelas palavras ásperas e duras que escutava dos outros, pela
incompreensão dos que me cercavam, pelas injustiças das quais eu julgava ser vítima... Pedia por dias melhores, mas quase sempre focada em conquistas materiais; pedia por sabedoria, mas não a que me fizesse encontrar o equilíbrio da vida, porque não sabia a diferença entre a nobreza de espírito e a manipulação alimentada pela vaidade e satisfação do ego. Pedia a absolvição dos meus pecados porque acreditava verdadeiramente que somente assim eu seria digna do olhar divino! Pedia, pedia e pedia... Uma lista interminável de pedidos que só revelava o meu egoísmo e ressaltava a minha vergonhosa mania de grandeza.
Mas o tempo (esse sim é sábio) me fez perceber, entre os muitos tropeços da vida, que não adiantava pedir nada que não ajudasse, de fato, em minha própria construção. Não adiantava rezar compulsivamente achando que todos os meus problemas estariam resolvidos! Havia algo neste processo que só fui me dar conta muitos anos depois... Não precisava pronunciar um amontoado de palavras que, para mim, não tinha sentido lógico. Não era necessário decorá-las e consagrá-las receitas mágicas!
Não sou religiosa (nunca fui!), mas mantenho comigo esse ensinamento. Rezar deixou de ser um ritual e passei a conversar quando, como e onde sentia vontade, com o Deus que, pouco a pouco, construí dentro de mim. Algumas vezes pensei que esse Deus fosse fruto da minha imaginação ou uma espécie de amigo imaginário. Movida pela razão, pensava que falava com a única pessoa que dava sentido para tudo, ou seja, comigo mesma e que tudo pertencia à minha própria capacidade de realização e materialização dos meus desejos e pedidos. Visitei muitos templos, conheci muitas ideologias e cheguei à conclusão de que não importa o caminho que escolhemos, de algum modo, todos eles nos levam ao mesmo Deus! Se em algum momento somos nós que realizamos nossos milagres, valeu à pena acreditar na existência dessa força maior.
Hoje não me esqueço de agradecer! Minhas orações são conversas que na visão de um leigo podem parecer meros monólogos, porém contém o discernimento de que nada na vida acontece num passe de mágica. Tampouco através de milagres! A vida já é o próprio milagre e é por isso que antes de começarmos qualquer oração, precisamos agradecer! Estar vivo é a materialização de todos os milagres e bênçãos!
Passamos por muitas dificuldades na vida, mas são elas que nos levam de encontro a esse Deus. Infelizmente, são nos momentos mais difíceis que paramos para reavaliar nossos atos e perceber o valor das coisas simples. Nesses momentos é que nos desfazemos de nossas manias de grandezas e nos despimos das falsas armaduras para encontrarmos toda a fragilidade que há em nós! E é aí que nos enxergamos verdadeiramente humanos! As orações que não saem apenas da boca, mas que transcendem ao coração são os diálogos francos que mantemos conosco! Nós somos nossas orações!
Continuo agradecendo!
Jackie Freitas
“Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos.”
*Imagens retiradas do Google Imagens
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