Tocando em Frente

  Estava dona de casaaqui em um dos meus momentos de reflexões! Acho que com a avançar da idade, eles estão se tornando mais freqüentes, e não sei porquê e nem de onde me surgiu na mente um trecho da música de Almir Sater, Tocando em Frente. Estava alucinada, cuidando da casa, dos filhos, comida, roupas e de repente uma frase ficou ecoando na minha cabeça: “Ando devagar porque já tive pressa...”. Pareceu-me mais um aviso do que uma lembrança musical. Uma chamada para que eu me aquietasse um pouco e desacelerasse o ritmo.
Muitas vezes não acreditamos em sinais ou simplesmente não os captamos como avisos. Passamos por cima, seguindo com a teimosia, mesmo sentindo o cansaço ou o pedido de cuidados. Simplesmente tocamos adiante como se fosse urgente qualquer medida, como se fôssemos nos perder no propósito que nem sequer sabemos qual é. Fiquei curiosa e fui ler a letra da música para ver se ela me daria mais “sinais” sobre o que eu mesma não sabia e encontrei esse trecho: “... Hoje me sinto mais forte, Mais feliz, quem sabe; Só levo a certeza de que muito pouco sei, Ou nada sei...”. 
Aparentemente as coisas seguem seu curso normal e talvez assim devesse mesmo, mas não podemos evitar essa urgência em descobrir o que nos espera, o que nos está reservado e aí, fico pensando se devemos ter essa pressa? Por que não apenas saborear cada momento como se ele fosse único? Por que não desfrutar da paz que podemos ter e deixar de ficar procurando por demônios? Para onde nos levam esses passos acelerados? Se não há nada melhor do que viver um dia após o outro, então por que, meu Deus, tanta pressa?
Eu já tive passos lentos, acreditando que um enorme futuro para reparar erros me aguardava. Adiei muitas coisas por justamente não entender o quanto é bom saborear os momentos, o quanto é apaziguador não ter saldos pendentes. Deixei de fazer muitas conquistas por acreditar que o tempo seria sempre o meu aliado e assim vim caminhando lentamente... Agora, qual a urgência? Recuperar o que ficou para trás ou encontrar o que eu adiei?
Não importa qual seja a resposta! O meu presente é esse e o que eu deixei de fazer não voltará mais. Sou feliz assim, com essas conquistas, com esse conteúdo que fui adquirindo ao longo do caminho. Sempre terei o meu tempo, não importa se é longo ou curto, mas o tenho agora! Os passos não precisam ser acelerados e sim precisos. Posso focar o que eu quero e pressupor os meus passos, mas não tenho como controlar o tempo. Algumas coisas conquistamos e outras seguimos ao seu encontro. Podemos errar os passos por inexperiência ou ingenuidade, mas o importante é não perder-se no cansaço.
Hoje posso andar devagar, só não posso parar! Não preciso ter pressa. A sabedoria está em ser paciente, em saber reconhecer a beleza e bênção de cada  momento. Se o sol está lá fora me convidando para um passeio, vou passear. As roupas estão no varal, porque me permiti esse passeio. A ótica não é a atividade e nem a rotina, mas sim o convite para ver o sol! Fui com as roupas e as crianças. Deixei as roupas no varal, as crianças correndo entre as árvores e eu sentada... apreciando o canto dos pássaros, as risadas das crianças, o leve vento no meu rosto e aí, a pergunta que ecoou na minha mente foi: para quê pressa?
Entendi os sinais! Ande devagar e aprecie a vida. Há muito mais o que ser reparado se você não tiver tanta pressa e nem urgência. As respostas podem estar nesses momentos ou continuarem um mistério, mas a vida não. Ela continua a seguir e você a acompanha com passos lentos. Não precisa ter pressa! Vamos tocando em frente e olhando para frente! Quem sabe lá estarão as respostas?
Jackie Freitas
“... É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou...”
(Almir Sater e Renato Teixeira)

*Imagens retiradas do Google Imagens

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