A Dor que Ensina...

 

Volta e meia falamos da efemeridade da vida porque, de algum modo, precisamos nos lembrar da importância do movimento…. Quanto mais nos movimentamos, mais abrimos o nosso campo de visão e, desta forma, mudamos não apenas as nossas opiniões, como, também, as nossas perspectivas e expectativas…. Somente assim, através do movimento, é que, de fato, promovemos as MUDANÇAS! Quando nos permitimos viver dentro dessa proposta de transformação, compreendendo a sinergia existente entre a vida e o movimento, passamos a identificar tudo o que não está compatível com essa proposta e que, portanto, não nos serve e não nos faz bem! Isso porque, dentro desse processo evolutivo, aprendemos e crescemos à medida que passamos por experiências essenciais para a nossa acuidade humana e espiritual. Muitas vezes, precisamos mergulhar nas profundezas dos mares turbulentos, percorrer pelos áridos desertos e caminhar na escuridão do labirinto dos sentimentos e vivência humana, para termos com certa clareza, o rumo dos nossos passos…. Passamos a identificar o que não queremos para nósNos tornamos mais seletivos e exigentes para conosco mesmos!  E, quando temos esse discernimento, reduzimos as incidências de “atropelos” e atrasos que sofremos durante esse percurso.

Passamos boa parte, ou quase toda a vida, focados naquilo que queremos. Saber o que queremos é um dos muitos desafios que enfrentamos e, normalmente, transformados como base, tal qual uma bússola orientadora que acaba, no final, mais desorientando do que especificamente nos mostrando o verdadeiro caminho a ser seguido. Lutamos e buscamos tudo aquilo que achamos que queremos, quando na verdade as respostas estão a partir da conclusão daquilo que não queremos, afinal, só concluímos a partir de experiências  reais, vividas e sentidas. Quando passamos por muitos enfrentamentos e sobrevivemos aos altos e baixos da vida, aprendemos, na prática, que muito melhor do que saber o que queremos é termos a clareza daquilo que não queremos!

Saber o que não queremos é o melhor ponto de partida, principalmente quando pensamos em reconstrução ou na busca de um novo caminho. Cada vez mais, concluo que essa busca pelo saber o que se quer não responde às inquietantes perguntas, especialmente aquelas sobre nós mesmos! Quem somos? O que queremos? O que buscamos? Muitas são as perguntas e variáveis são as respostas, principalmente se elas estiverem baseadas na ilusória certeza de que o que queremos é imutável ou definitivo.

Carl Jung escreveu: “Queremos ter certezas e não dúvidas, resultados e não experiências, mas nem mesmo percebemos que as certezas só podem surgir através das dúvidas e os resultados somente através das experiências.” Fica claro que quanto mais vivemos e experimentamos, mais expandimos a nossa mente e, desta forma, mais nos aproximamos das nossas verdades. Quanto maior o empenho pela busca das certezas, maior também o cansaço que, algumas vezes, nos leva à desistência da vida…. Quanto mais achamos que sabemos o que queremos, menos nos dispomos a enfrentar as nossas imperfeições e aos desafios…. Confundimos não a nossa realidade, mas as nossas verdades! Damos menos espaço para a humildade em admitir que nada sabemos e que estamos aqui vivendo pelo aprendizado, nesta exigente escola que é a vida; porque insistimos em manter a prepotência de um saber que além de não responder às nossas perguntas, nos impede de investigar o verdadeiro conhecimento! Buscamos tantas respostas, mas nos silenciamos diante do desconhecido…. Por que? Pelo medo de enfrentar os espinhos e as pedras dessa caminhada. Pelo medo da dor que a busca pelo querer nos causa. A dor nos incomoda, quando deveria nos libertar….

No final, nada sabemos senão que aquilo que vivemos e deixamos para trás nos mostra com muito mais precisão o caminho adiante e a ser percorrido. Nossas certezas estarão sempre baseadas nas nossas dores e não necessariamente nas nossas alegrias. Porque a dor nada mais é que um depurador do nosso espírito. É ela que nos prepara para os estágios subsequentes desta e de outras vidas. A dor nos ensina!

Portanto, todas as vezes que você estiver buscando incansavelmente aquilo que quer, saiba (através de suas dores) aquilo que não quer…. Esse é o seu ponto de partida! E siga em frente, traçando a sua rota, seguindo pelo seu caminho; aceitando não o seu destino, mas a sua evolução natural neste processo da vida!

 

Jackie Freitas

 

“O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram. ”

Rubem Alves

 

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