Oito de Março
Desde sempre, nós mulheres temos sido ignoradas, negligenciadas, subestimadas
e (por que não dizer?) maltratadas…. Nossas obrigações sempre foram impostas e cobradas como se a nossa existência dependesse da excelência do desempenho e cumprimento unicamente das funções ligadas ao lar, maternidade e matrimônio… Nossos direitos foram guardados às sete chaves por uma pretensa supremacia que não tem feito outra coisa durante anos, a não ser nos julgar fracas e submissas, bem como nos condenar à insignificância e incapacidade. Num mundo ainda nitidamente machista, a força física se sobrepõe ao intelecto, ou seja, não importa o quanto uma mulher seja mais capacitada por sua inteligência; no final, a ignorância será reafirmada pelo preconceito e discriminação.Não sou feminista e sinto muita preguiça
nessas intermináveis discussões que, muitas vezes, ultrapassam ao extremismo;
entretanto, não posso ignorar as muitas lutas das mulheres ao longo dos tempos;
e a reflexão aqui não é sobre uma causa específica e sim sobre um fato humano
(talvez desumano).
Coincidência (ou não!), ontem, justamente no
dia oito de março, no tal famoso “dia internacional
da mulher”, assisti a um filme que conta a história (real) de mulheres
negras e toda as dificuldades que enfrentaram para provarem o seu valor no exército
americano durante a segunda guerra mundial! Não bastasse serem mulheres, ainda
precisaram superar outro enorme obstáculo: serem negras! Obviamente superaram
os seus desafios pessoais, provando a si mesmas a capacidade de estarem num
ambiente hostil e tipicamente masculino, de provarem a si mesmas que eram
capazes de estar naquele lugar, não somente para provarem o valor das mulheres
ou para provarem que a cor da pele não diminui o ser humano em capacidade, mas,
porque queriam, como cidadãs, demonstrarem toda a indignação que a guerra causara
na humanidade!
Quando vejo as mulheres, nos dias atuais, se
emocionarem com uma flor ou com qualquer outro tipo de “barganha” oferecida
neste “dia da mulher”, fico me
perguntando: “É esse tipo de retribuição e reconhecimento que temos buscado? É isso que merecemos: uma
flor, um agrado, um abraço xoxo porque finalmente nos deram um dia para sermos
lembradas, valorizadas e respeitadas? ”.
Os índices de feminicídio têm aumentado de forma assustadora, provando que, por mais que digam que “somos aceitas” e que temos os mesmos direitos, as estatísticas mostram o contrário! Por mais que hajam campanhas tentando promover o despertar da consciência para a igualdade de gêneros, ainda ganhamos menos (na maioria das vezes) e somos submetidas ao dobro dos esforços apenas para provarmos “merecimento”! E, então, no dia 08 de março, a maioria de nós se curva “em gratidão” pelas migalhas de um reconhecimento que, certamente, nos dias subsequentes será esquecido e, provavelmente, arquivado com o passado de lutas das nossas ancestrais! As flores, para muitas, serão substituídas pela violência (física, moral e psicológica) e todo o discurso demagogo dará espaço para o autoritarismo, machismo e preconceito!
Portanto, minhas caras, reflitam bastante
sobre esse e TODOS OS DIAS! Infelizmente a inclusão ainda está distante (não se
iludam!), mas o cenário só mudará efetivamente, mesmo que aos poucos, quando não
mais nos contentarmos com flores que murcham (e morrem!) e, tampouco, com discursos
hipócritas e demagogos que, no final do dia, ainda esperarão de nós a comida
pronta e a casa limpa…
O dia oito de março foi criado para reflexões
profundas sobre o espaço que ocupamos… sobre o nosso progresso….
Nós vamos refletir… reflitam!
Jackie
Freitas
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