domingo, 24 de setembro de 2017

Deixe ir...

Era uma vez uma menina que via o mundo com docilidade. Acreditava nas
pessoas e desejava a felicidade de todos os seres. Certo dia encontrou um pequeno e frágil pássaro e resolveu levá-lo pra casa. Comprou uma linda gaiola e o colocou lá. Todos os dias admirava a beleza do pássaro, alimentava-o com carinho e ficava esperando que, em troca de sua generosidade, ele cantasse para ela.
Passaram-se dias e mais dias e o pássaro nada. Sem canto ou encanto, passava seus dias olhando para o horizonte através das grades da bela gaiola. A menina, que acreditava em seu gesto benevolente, ficou também triste por vê-lo tão distante do carinho e amor que ela proporcionava. E então, impetuosamente, decidiu libertá-lo. Abriu a gaiola, o segurou entre as mãos, deu um carinhoso beijo e o deixou voar em rumo ao seu destino... Nunca vira asas baterem tão fortes e um voo tão rápido. Mas, ficou feliz por saber que tinha feito a escolha certa, sobretudo pra si mesma.”.
Algumas vezes na vida precisamos tomar decisões semelhantes. Agimos, também, com a certeza de que o simples bem querer é suficiente para proporcionar felicidade a alguém. Esquecemos, entretanto, que nem sempre o nosso “querer” é o mesmo dos outros. Acabamos nos aprisionando nas melhores intenções e propostas, mantendo um relacionamento que não evolui e nem proporciona nada além de sofrimentos. Acreditamos, ingenuamente, que o tempo cuidará tanto do amadurecimento quanto da “cura” da relação, e no decorrer desse tempo percebemos que nada mais fazemos do que prolongar uma decisão que deveria ser tomada nos primeiros sintomas de desconforto ou infelicidade: deixar ir!

Deixar ir tudo o que não nos é saudável ou que não traga felicidade. Nem todas as pessoas estão preparadas para reconhecerem ou entenderem qualquer gesto de carinho. É certo que ninguém deseja, também, viver numa gaiola, por mais nobres que sejam quaisquer intenções e, muitas vezes, quem acaba preso somos nós mesmos! Deixar ir significa, antes de tudo, libertar-se da culpa que se carrega por não ser reconhecido em generosidade. Parar com as cobranças de uma gratidão que jamais existirá. Compreender que todos alçam seus voos em busca de ideais que não são compatíveis aos nossos. Tomar a decisão de abrir a gaiola pode parecer a mais difícil, porém, uma vez aberta nos isentamos da responsabilidade da felicidade de alguém e assumimos a nossa!
A vida seguirá seu curso normal e nada nos impedirá às novas descobertas. E talvez seja isso que precisamos! Descobrir que podemos ouvir o canto dos pássaros sem nos preocuparmos com suas asas feridas, porque as nossas também um dia se feriram e cuidamos sozinhos para que elas se fortalecessem e nos ajudassem a voar novamente.
Por isso, cada vez mais tenho a certeza de que todos nós somos Fênix. Renascemos das cinzas para darmos o mais belo e encantador voo de nossas vidas. Somos fortes e com um poder de “auto cura” incrível. Tenho certeza que não estamos aqui para viver nas amarras do sofrimento. Talvez também não seja nossa missão fazer as pessoas felizes. Felicidade é algo que se descobre e saboreia lentamente, em ocasiões especiais! Felicidade é encontrar-se em si e perceber que ninguém pode nos proporcionar bem maior do que nós mesmos. É ter a certeza de que ninguém pode nos fazer bem ou mal se não for da nossa vontade ou consentimento. É aceitar o desafio do aprendizado e tentar praticá-lo; mesmo que seja através das quedas, magoas, decepções ou ingratidão. Aliás, por que as pessoas deveriam nos ser gratas? Gratidão não é um acerto de contas. Ela não parte dos outros e sim de nós para nós mesmos! Gratidão é nossa consciência transmitindo ao corpo a leveza de que fizemos o que pudemos pelo bem de alguém e pelo nosso também.
Por isso, quando pensamos naquela menina cheia de ideais, tentando salvar um pássaro das maldades do mundo, pensando que o privando de suas próprias experiências estaria promovendo o bem; pensemos no quanto dela carregamos em nós. Pensemos que não se aprisiona nada sem antes estar aprisionando a si mesmo. A gaiola pode ser linda olhando de fora, mas o que vive em seu interior não! Muitas vezes a fragilidade de quem vive fora dela é muito maior de quem está dentro. Não somos prisioneiros, mas acabamos nos tornando reféns de nossa própria intenção de bondade por não reconhecermos que cada um precisa encontrar seu modo de viver, de curar suas asas e de voar para onde bem quiser. Não cabe a nós a escolha por ninguém! Ao abrir a gaiola estaremos fazendo a escolha da merecida liberdade. Não de um pássaro e nem de alguém qualquer, mas a nossa mesma!                                                                     Portanto, deixe ir... Apenas deixe ir...

Ouça o meu podcast (neste link) sobre esse tema. Espero que goste! Obrigada pelo carinho de sempre! 

Jackie Freitas

“A esperança tem asas. Faz a alma voar. Canta a melodia mesmo sem saber a letra. E nunca desiste. Nunca!”
(Emily Dickinson)



*Imagens retiradas do Google Imagens

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