Depois do Sonho

Vou começar com uma citação de Carl Jung que li por acaso e me trouxe aqui: “Quem olha para fora sonha, quem olha pra dentro desperta”. Não estou dizendo que ela me representa (pelo menos não neste momento), mas, de algum modo, me fez refletir….

Percebi, através dela, que tenho vivido longos dias, ou seja, a minha vida, olhando apenas para fora, vivendo a vida de uma pessoa que, talvez, nem seja eu! Sonhando com uma vida distante da minha própria realidade! Sonhando com pessoas fictícias e permitindo que pessoas reais sonhem e idealizem uma pessoa diferente daquela que sou!

Quando se perde alguém que conseguia enxergar e te distinguir na multidão, que sabia dos seus sonhos e, também, da sua realidade, você fica com “preguiça” de pensar sobre a vida. Porém, o trauma da perda provoca reações e sentimentos que, em situações normais, jamais saberíamos. A dor tem uma intensidade diferente e a sua extensão é assustadora! Ela dói em lugares que nem sonhávamos existir e repercute além do corpo, se expandindo, também, pela alma! Ela desencadeia reflexões sobre a vida, incluindo questionamentos sobre nós mesmos. Nos recolhemos nas profundezas obscuras do próprio ser para tentar entender: qual lição devemos extrair e o que, afinal, a vida quer nos dizer através dessa dolorosa experiência?

Então, certa de que Deus nos envia sinais e mensagens o tempo todo, me deparei com essa frase do Carl Jung. Talvez apenas para sair do ostracismo e voltar a pensar…. Fui forçada a olhar pra dentro de mim, encarando as minhas imperfeições e fragilidades para entender o obvio: somos essencialmente o que somos e ponto final! Claro que sempre na busca do autoconhecimento e da tal reforma íntima e moral, da evolução espiritual ou da hipotética melhora humana; mas, de algum modo, buscando uma transformação que diga, não apenas ao mundo, mas principalmente a nós mesmos, quem somos de verdade! O que ou quem nos tornamos, no final das contas?

Quando fazemos essa incursão, vasculhando o nosso interior e percorrendo pelos labirintos da nossa mente, inevitavelmente nos deparamos com nossos piores medos, receios, defeitos; questionamos nossos anseios e o rumo dos nossos passos…. Percebemos que, assim como o tempo urge, o nosso despertar também! E, quando passamos muito tempo sonhando (olhando para fora), principalmente quando sonhamos os sonhos dos outros e esquecemos dos nossos, permitimos que as pessoas nos confundam e nos vejam da forma como elas querem que sejamos, ou seja, validamos a imagem daquilo que nos tornamos e não de quem somos de fato! De algum modo, quando deixamos de olhar para dentro e vivemos na superficialidade, perdemos partes importantes de nós!

E como mudamos isso? Nos libertando dos estereótipos impostos por uma sociedade viciada e doente…. Retomando a consciência de que a melhor forma de contribuição para conosco (principalmente), que reverberará (quiçá) para o mundo, é preservando a própria essência e a verdadeira identidade. Assumindo quem somos de fato, sem receios das críticas, julgamentos ou cobranças que nos são feitas o tempo todo.  Aliviando a bagagem e deixando nela apenas aquilo que nos servirá adiante, afinal o caminho é longo e ainda há muito o que percorrer. É parando de olhar pra fora para sonhar os sonhos que não sejam os nossos; é aprendendo a olhar para dentro e redescobrindo que somos mais do que os sonhos dos outros…. Despertando para a própria realidade e, sobretudo, aceitando quem somos!

Honestamente eu não sei se consigo enxergar a pessoa que sou de verdade, mas estou curiosa para saber e descobrir mais sobre esse alguém que, por tantos anos, habita em mim. Eu acho que todos deveriam fazer o mesmo para que, desta forma, o mundo, como um todo, ganhe pessoas que estejam mais conscientes de suas capacidades e qualidades, e, também, melhores resolvidas com seus defeitos e limitações. O mundo está repleto de complexos e esse é um dos pesos que impede a fluidez da vida! Talvez, a partir desse passo, todos possamos compreender um pouco melhor sobre a verdadeira evolução e o seu significado e, quem sabe, usufruir dela….

Será que isso tudo é apenas (e ainda) um sonho meu????

A ironia é que tive que passar anos da minha vida, perdida em sonhos, enfrentando dias sombrios, dolorosos pesadelos para, agora, despertar e encarar a minha própria realidade; me rendendo à fragilidade que eu ignorava, porque carregar a armadura (ser forte) parecia mais importante e era, de algum modo, o que todos esperavam de mim! Tive que sofrer uma perda (significativa e importante), que me obrigou a investigar os meus sentimentos com mais profundidade (olhar pra dentro), para começar a me interessar por mim mesma….

Talvez esse seja o “chamado” de Deus para que nos lembremos daquilo que viemos fazer…. Talvez seja Ele nos colocando de volta no caminho que nos levará onde precisamos ir…. Talvez seja apenas o reencontro com a pessoa que somos e que, por descuido, deixamos para trás…. Talvez seja tudo isso ou nada disso! Então, precisamos prosseguir para descobrir o que há adiante….

Quem olha para fora sonha, quem olha pra dentro desperta”…  

Que os sonhos não nos impeçam o despertar para a vida e que o nosso olhar não limite a nossa visão para que ela esteja voltada somente para dentro ou para fora….  Que sejamos, SEMPRE, capazes de olhar com expansão, fé e amor para todas as direções!

Jackie Freitas

Comentários

  1. Ótimo, difícil né, olhar pra dentro de nós ! Mas necessário, as vezes até sofrido

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A maior verdade está dentro de nós, minha querida! E, nem sempre ela revela o que queremos, mas, verdade é sempre verdade... Bjs e muito obrigada pelo carinho!

      Excluir
  2. Adorei sua maneira de pensar .Por esse ângulo, as coisas parecem mais claras mais bonitas! Realmente devemos olhar para todas as direções sempre que sentirmos vontade!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigada pelo carinho e comentário! Fico feliz em saber que as minhas reflexões e as minhas palavras te fizeram bem! Deus te abençoe!

      Excluir

Postar um comentário

Deixe o seu comentário!